26 de fev. de 2020

Coronavírus: o que é mito e o que é verdade

Com o medo batendo à porta do mundo, necessitamos serenidade e calma para encarar o eminente perigo que chega ao Brasil.

Afinal, o vírus nCoV-2019 é um resfriado e pode ser tratado como tal? Dietas com alho e chá de erva-doce, antibióticos, uso de máscaras e desinfetantes podem ajudar a combater o coronavírus? Especialista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo responde o que se sabe até agora sobre a doença.
Com a preocupação com a disseminação global do vírus há uma apreensão quanto a esclarecer o que é verdade ou mito sobre a doença.

Os comentários e dúvidas estão nas redes sociais, nos grupos de mensagens de WhatsApp, e-mails e nas discussões do dia a dia. “Ainda não temos todas as respostas e desde que os primeiros casos foram relatados as autoridades mundiais buscam aprender mais sobre o vírus”, explica João Prats, infectologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo . E ele responde o que é falso e o que realmente é verdade sobre o coronavírus.

O coronavírus é um vírus novo?
Embora a cepa de vírus nCoV-2019 seja considerada nova, ela vem de uma família de coronavírus identificada pela primeira vez na década de 1960. Seu nome vem das projeções em forma de coroa em sua superfície e é derivado de corona, o termo latino usado para coroa.

Ouvi dizer que foi por causa da sopa de morcegos que as pessoas foram infectadas, é verdade?
Os morcegos têm sido implicados na disseminação de vários vírus mortais entre humanos, incluindo Ebola, raiva, Sars e Mers. Mas até aqui não se sabe se eles têm alguma relação com esse novo coronavírus. Além disso, a sopa não infectaria ninguém porque a fervura mataria o vírus. Potencialmente perigosa seria a manipulação das carcaças e contato com o sangue do animal.

Há relação entre tomar chá de erva-doce várias vezes ao dia e impedir a doença?
Não há comprovação científica nessa recomendação, inclusive a erva-doce não tem relação alguma com o medicamento indicado para tratar e prevenir gripe como tem sido divulgado em algumas mensagens que circulam pela internet.


O uso de máscaras impede o contágio?
Não. O uso de máscaras é uma medida errada para prevenção de infecções de modo geral porque basta a pessoa coçar o nariz ou tocar os olhos para estar exposta. As máscaras teriam de ser completamente vedadas como aquelas usadas em ambientes hospitalares para tratar casos de tuberculose, por exemplo, além de proteger o nariz e os olhos. Porém, esse tipo de equipamento não é recomendado para uso extra-hospitalar. Higienização das mãos é bem mais interessante nesse sentido.

Álcool gel mata o vírus?
Sim, o álcool funciona porque tem um efeito imediato sobre a camada de gordura que recobre o vírus. Entretanto, não é um efeito duradouro e, por isso, é recomendado que as pessoas lavem as mãos e usem o álcool gel muitas vezes ao longo do dia.

Vitamina C reforça a imunidade?
Não, a vitamina C nunca teve eficácia demonstrada em estudos de prevenção de infecções e, inclusive, ela em excesso deixa a urina ácida, o que pode precipitar a formação de cálculos renais em pessoas predispostas.

Lavar as mãos muitas vezes ao dia impede a infecção?
Lavar as mãos sempre ajuda muito e é a melhor coisa a se fazer pela saúde, mas apenas lavar as mãos não impede uma transmissão de vírus.

Todo contato físico é um risco?
Para uma pessoa doente contaminar outra é preciso mais do que um abraço, por exemplo. Esse vírus não se propaga tão facilmente como o vírus do sarampo. Se alguém espirra, as partículas do coronavírus são pesadas e não ficam por muito tempo suspensas no ar. Isso o torna menos contagioso, ainda que o contato com as secreções em superfícies e nas mãos, por exemplo, sejam importantes para a disseminação do vírus.

Há alimentos que impedem que o organismo seja afetado ou reforçam a imunidade?
Nenhum alimento tem esse poder de impedir que alguém seja afetado ou reforce a imunidade a ponto de combater um vírus. O que sempre recomendamos é que as pessoas tenham uma alimentação balanceada e sigam hábitos saudáveis, que são bons para a saúde de forma geral.

Meus amigos disseram que um medicamento específico, indicado para tratar e prevenir gripe, pode ajudar. É verdade?
Há estudos que estão sendo feitos para verificar a eficácia de se usar o oseltamivir em combinação com o lopinavir + ritonavir (associação de medicamentos usada para combater o HIV), mas por enquanto não há evidência de que isso irá funcionar para combater o novo coronavírus.

Se eu tomei as vacinas contra gripe estou protegido?
Tomar as vacinas é muito importante, mas são vírus diferentes e, por isso, a vacina para a gripe não protege contra o coronavírus.

Há algum risco de que animais de estimação espalhem o vírus?
Não, de forma alguma. Mesmo na China, onde o vírus está circulando, não se sabe de casos de que animais domésticos tenham sido responsáveis pela transmissão do vírus, mas sempre é bom lavar as mãos após ter contato com cães, gatos e bichos de estimação para se proteger de outros microorganismos que podem ser transmitidas por meio desse contato.

Existem doenças que tornam pessoas mais vulneráveis ao vírus?
Sim, há pessoas que têm maior risco de ficar doentes, dentre elas os idosos, os imunossuprimidos e quem sofre de doenças crônicas, como pessoas com câncer, doenças cardíacas e pulmonares graves, pessoas vivendo com HIV, quem faz diálise e transplantados.

Existe risco em receber correspondência ou um pacote vindo da China?
Não há risco. É seguro. As pessoas não seriam infectadas por cartas ou pacotes vindos da China porque o vírus não sobrevive muito tempo fora de um organismo vivo.

Usar soro fisiológico várias vezes para limpar as narinas podem evitar a infecção?
Não. O soro é usado para umidificar as narinas e trazer alívio para os sintomas como coriza ou obstrução nasal, por exemplo, mas a fórmula não traz nenhum tipo de componente que tenha atividade contra o vírus.

Comer alho pode ajudar a prevenir a infecção pelo novo coronavírus?
Nenhum alimento isoladamente demonstrou eficácia clínica na prevenção de infecções por vírus, tampouco como potencializador da imunidade. Com o alho não é diferente.

Desinfetantes vendidos em supermercados podem ajudar a limpar o ambiente e evitar esse vírus?
Sim, os desinfetantes, principalmente aqueles à base de cloro, ajudam a manter o ambiente limpo e podem acabar com o vírus. O coronavírus é envolto por uma cápsula de gordura que o protege e, por isso, detergentes e desinfetantes funcionam para eliminá-lo.

Tomar antibióticos pode ajudar o organismo a combater o vírus?
Antibióticos não têm efeito algum contra vírus e se não há nenhuma doença ele poderá matar as bactérias benéficas da flora intestinal, podendo deixar a pessoa vulnerável a outras doenças. Antibióticos devem ser usados criteriosamente para combater infecções causadas por bactérias e aqui estamos falando de um vírus.

22 de mai. de 2014

Cervejaria Calsberg e a física quântica

Bohr foi um físico dinamarquês cujos trabalhos contribuíram decisivamente para a compreensão da estrutura atômica e da física quântica. Ganhou um Nobel em 1922 por suas descobertas e participou da construção da primeira bomba atômica. Tem seu nome na tabela periódica em forma de homenagem através do elemento Bohrio.

Mas não o invejo nem um pouco por isso, e sim pelo prêmio que esse cara ganhou pelos seus feitos... Uma casa.
Pois é, ele ganhou uma casa, mas não uma simples casa,  a mansão “Gamle Carlsberg”. Em 1932, foi dada à nação pelo fundador da cervejaria Calsberg foi colocada à disposição de Niels Bohr e do Instituto de Física Teórica em Copenhague.

Aí você pergunta, tá, mas e daí ganhar uma casa!?

Bom, e se eu te contar que essa casa tinha um encanamento especial. Bohr tinha uma torneira em sua casa que saia cerveja direto da Carlsberg. Era só abrir a torneira, posicionar o copo embaixo e beber. Simples, prático e maravilhosamente magnifico! Cerveja infinita e gratuita.

Merecido prêmio, se tivessem me ensinado isso no colégio poderia ter me dedicado bem mais às aulas de física.

E à nós, resta ficar imaginando as possibilidades de um encanamento que saí diretamente dos barris de maturação da fábrica e chega em casa, na Dinamarca não precisam nem mesmo se preocupar com uma forma de gelar a cerveja, porém isso não seria problema nenhum nem mesmo para a região mais quente do mundo.

6 de nov. de 2013

Os 10 mandamentos do Rei do BOTECO



No boteco não tem rei, não tem mendigo, não existe pobre ou rico, é um espaço democrático onde todos são iguais diante de um balcão, com boa bebida, petiscos baratos e uma conversa sem compromisso e animada. Mas também é preciso respeitar as regras de um boteco, a mais importante delas é jamais saia sem tomar ao menos uma saideira!

27 de set. de 2013

Cerveja - algumas curiosidades

Seu nome - No Brasil, a palavra chope vem da expressão “ein Schoppenbier”, que era como os alemães pediam um quartilho (copo de 0,6655 litro) tirado do barril. A cerveja segue o mesmo processo de produção, mas a versão em garrafas e latas é pasteurizada para durar mais.

Ressaca Faraônica – Beber até cair era mais que um prazer pessoal para os antigos egípcios. Todos os anos, era realizado o festival para a deusa Tefnuf, regado a muita comida, música e cerveja. Pinturas de um túmulo de 4 mil anos encontrado em Beni-Hasan mostram dois homens completamente bêbados sendo carregados de um banquete e mulheres vomitando depois de uma ressaca brava. Entre os egípcios, sair de uma festa caminhando com as próprias pernas era visto como maus modos, sinal de que o convidado não bebera o suficiente.

Porre sagrado - No século 7 da era cristã, a farra alcoólica transcendeu às tavernas e tornou-se um constrangimento na Igreja inglesa. Bispos e monges ganharam a má reputação de bêbados ou glutões. Os porres eram tão comuns que alguns chegavam a vomitar a hóstia durante a Eucaristia. As autoridades religiosas criaram então leis de conduta, punindo os clérigos que passassem da conta. Um monge levava 60 dias de penitência. Já um bispo podia ser punido com 80 dias de suspensão e até mesmo com a expulsão.

 Cervejaria em alto-mar - Em 1944, os britânicos decidiram construir um navio-cervejaria, capaz de fabricar 250 barris por semana e saciar a sede dos soldados que combatiam na Segunda Guerra Mundial. Os navios Menestheus e Agamemnon foram enviados ao Canadá para as adaptações. Para azar dos militares, o primeiro deles só ficou pronto após o fim da guerra.

Data de criação – Existe muita controvérsia sobre a data de criação das primeiras cervejarias medievais, sobretudo se levarmos em conta aquelas instaladas em mosteiros. Os registros não são confiáveis e o ano de fundação dos mosteiros se confunde com o início da produção da bebida. A única coisa certa é que as pioneiras estão na Alemanha. Entre um gole e outro, os sócios da confraria alemã Biersekte cravaram a seguinte lista das cervejarias mais antigas ainda em atividade.

1. Bayerische Staatsbrauerei Weihenstephan (1040)

2. Klosterbrauerei Weltenburger (1050)

3. Herzoglich Bayerisches Brauhaus Tegernsee (1050)

4. Klosterbrauerei Scheyern (1119)

5. Schlossbrauerei Herrngiersdorf (1131)

28 de ago. de 2013

Consumo de cerveja no mundo (em litros/habitantes)


Nota-se que quando se trata de cerveja, os tchecos não brincam em serviço.
Se o estudo fosse feito apenas com cervejas boas, provavelmente o Brasil nem entrasse na lista.
Lembrando que essa pesquisa não leva em conta o tamanho do território, e sim litro por habitante.
Cabe a cada um fazer sua parte para tentar-mos subir neste ranking, já que em educação, saneamento, qualidade de vida, entre outros, já perdemos as esperanças...

Tim -Tim

15 de jul. de 2013

Tome Juízo!

Finalmente será possível tomar Juízo.
Aliais, desse jeito deixarei sempre o copo cheio de juízo.

Tome juízo você também!


12 de jul. de 2013

Lições de “Office Space” (Como enlouquecer seu chefe)

Introdução ao tema:

O trabalho capitalista da indústria ou dos serviços é, em si, desprovido de sentido. O que significa que trabalho dilacera a subjetividade da vida - mente e corpo. Todo trabalhador assalariado pressupõe uma precariedade que decorre desta alienação estrutural que funda a condição de proletariedade. A sociedade de serviços capitalistas é a sociedade do trabalho forçado em sua dimensão universal, forçado não por ser escravo, mas sim por ser necessário, é preciso trabalhar e pode ser divertido trabalhar, mas o descontentamento que penetra o chão de fábrica e o espaço do escritório está na relação tempo de trabalho e tempo de vida. Na medida em que a forma-mercadoria determina o produto da atividade social, seja ele tangível ou não, o processo de trabalho da indústria ou dos serviços, aparece como processo de valorização individual. Esta é a base material do fenômeno do estranhamento que se imiscui na atividade de trabalho do operário ou do empregado. Não apenas o trabalho é trabalho estranhado, mas a vida cotidiana é demarcada pelo estranhemnto, ou seja, obstáculos que impedem o pleno desenvolvimento do ser genérico do homem, como tempo (transito, jornada, férias acumuladas), fixação de horário, falta de valorização moral e financeira.
   

O Filme:

Lançado no auge da New Economy e do boom das empresas de Internet nos EUA em 1999, “Office Space”, título original de “Como enlouquecer seu chefe”, de Mike Judge, é uma deliciosa comédia sobre o mundo dos proletários de “colarinho-branco” no Vale do Silício na Califórnia. No filme, todos homens e mulheres aparecem como proletários: Peter Gibbons, o programador; Joanna, a garçonete; Alexander, o operário, vizinho de Peter., etc. Enfim, todos estão imersos na condição de proletariedade, sendo obrigados a vender sua força de trabalho para “pagar as contas” e imiscuir-se na relação de trabalho e vida.


Karl Marx, no Terceiro Manuscrito dos "Manuscritos Econômico-filosóficos" (1844), tratou do "trabalho estranhado" como sendo a característica essencial da atividade do trabalho na sociedade capitalista. Na medida em que o processo de trabalho é processo de valorização, seja no espaço da fábrica ou no espaço do escritório, o trabalho aparece como trabalho estranhado (o homem que trabalha está alienado do produto e do processo da sua atividade de trabalho, além de estar alienado de si e dos outros). Esta é a condição do trabalho nas sociedades burguesas.

Além disso, Georg Lukács, no último capítulo de sua inacabada "Ontologia do Ser Social" (1971), tratou do fenômeno do estranhamento, que diz respeito aos obstáculos sociais historicamente determinados que impeçam o livre desenvolvimento do ser genérico do homem. A sociedade do trabalho estranhado é a sociedade da vida cotidiana estranhada. No sistema do capital é impossível ter uma vida plena de sentido. Por isso, em "Office Space", a alienação não está apenas no escritório da empresa capitalista, mas está na vida cotidiana e nas relações sociais, pessoais ou afetivas. Mike Judge traduz as dimensões amplas do trabalho estranhado e da vida social estranhada com fina ironia e um senso de humor mordaz.


No filme, Peter Gibbons (Ron Livingston) é um programador que trabalha na Initech, empresa capitalista que faz upgrade de softwares e sente-se muito infeliz no emprego. Mas após uma sessão de hipnoterapia, seu comportamento muda e ele passa a não cumprir horários, nem fazer nada daquilo que lhe foi determinado. Porém, quanto mais se rebela mais é elogiado por especialistas em produtividade, que lhe dão uma promoção e fazem isto no mesmo período em que várias pessoas são demitidas.

O jovem Peter Gibbons é um homem insatisfeito com o trabalho, estressado pela rotina e oprimido pelo chefe no escritório. O chefe Bill Lumbergh é o “espectro” que persegue Peter, inclusive em seus pesadelos. O que demonstra que o controle capitalista do trabalho é também controle capitalista da reprodução social: a vida social torna-se com a grande indústria, uma "imensa fábrica" e a presença do capital como sistema de controle social (e pessoal) se dissemina pela produção e pela vida cotidiana, implicando as dimensões mais íntimas da viva. Lumbergh é a "persona" do Mal que sintetiza em si, o controle autocrático do capital no local de trabalho. Mas Lumbergh é menos um vilão ardiloso que um filisteu medíocre. Na verdade, ele possui estilo de chefe da velha empresa taylorista-fordista.


Ao mesmo tempo, Peter está insatisfeito com sua vida amorosa. É um detalhe importante do filme pois expõe o estreito laço entre trabalho e vida afetiva. Como Lester Burham, do filme “Beleza Americana” (1999), o que move Peter Gibbons em sua atitude pessoal contra o trabalho estranhado, são disposições íntimas que o sufocam. Por isso, de repente, ele “chuta o balde”: abandona a namorada e, ao mesmo tempo, rompe com o estilo de vida do empregado enquadrado na rotina de trabalho monótona e repetitiva.

O eixo temático principal do filme é a crítica visceral do trabalho capitalista, trabalho estranhado ou trabalho abstrato que consome tempo de vida e que submete homens e mulheres à rotina monótona e repetitiva. É o mote das músicas que tocam no filme. Trabalho estranhado é trabalho abstrato, o trabalho que produz valor. Assim, embora “Office Space” trate do mundo do trabalho em escritório, a falta de sentido do trabalho é a mesma do trabalho do operário da linha de montagem da fábrica. É por isso que Peter Gibbons, como Carlitos de “Tempos Modernos” (1936), está imerso no trabalho abstrato. “Office Space” é o Modern Times da New Economy, embora, é claro, Peter Gibbons não esteja à altura do Carlitos de Chaplin Chaplin...

Um dos grandes méritos do filme de Mike Judge é expor com humor ácido, um traço ontológico da sociabilidade moderna: a falta de sentido do trabalho (e da vida) na sociedade burguesa. Aos poucos verificamos que não apenas Peter, mas Joanna e muitos outros demonstram insatisfação com o emprego que consume suas vidas pessoais. A caricaturização dos tipos humanos (Peter, Joann, Alexander, Bill, Milton, Tom, etc) não impede que possamos nos identificar (ou identificar alguém) com eles. No meu caso, me identifico com Peter.
 
É numa segunda-feira, primeiro dia útil da semana, que a crise pessoal de Peter Gibbons se manifesta com vigor. Segunda-feira é um “dia de cão”. Como Carlitos, de “Tempos Modernos”, ele “surta”. Por que Peter Gibbons surta? Talvez porque sempre foi o empregado que disse “sim” para o chefe, submetendo-se calado às horas-extras nos finais de semana. O tempo de vida de Peter era tempo de trabalho. Por isso, num certo dia, ele tenha “surtado” - é a subjetividade (mente e corpo) insubordinado-se contra as disposições estranhadas do capital.

Ao redor de Peter, uma série de personagens curiosos compõem o espaço do escritório, cada um deles traduzindo em si, um complexo de afetos contraditórios que permeiam a alma proletária. Por um lado, insatisfação e medo; e por outro lado, comodismo e perspectiva de carreira. É o caso do exótico Milton, do temeroso Tom e dos jovens programadores Michael Bolton, de estilo nerd, e do jovem indiano Samir Nagheenanajar. Ao lado da Initech, os fast-foods com lanches e refeições rápidas para vidas velozes.

O diretor Mike Judge expõe a fauna humana dos ambientes de trabalho. A ridicularização do trabalhador no filme é um recurso heurístico capaz de expor, com humor caustico a completa banalidade da vida burguesa. Se olharmos bem de perto, cada detalhe de “Office Space” é uma critica mordaz não apenas da vida corporativa americana, mas do sonho americano de capitalismo, e é claro, estende-se e serve para as demais sociedades capitalistas do mundo.

É claro que, de imediato, a critica do trabalho capitalista sugerida no filme é tão elementar quanto a filosofia zen de David Carradine na velha série dos anos 1970, “Kung Fu” (a série de TV preferida por Peter e Joanna). Na verdade, o jovem Peter reage ao trabalho, rebelando-se por meio do ócio militante. Ele quase declama o “direito à preguiça” de Paul Lafargue... Em seu surto pessoal, Peter Gibbons se recusa a seguir horários e critica as atribuições de tarefas. Mas, de modo paradoxal, Peter Gibbons torna-se "modelo" das novas práticas empresariais de flexibilização do trabalho. Por isso, de modo inusitado, é admirado pelos consultores contratados para fazerem um downsizing na empresa. Quanto mais Peter se rebela, mais é elogiado pelos especialistas em produtividade. Ora, num primeiro momento, poderíamos dizer que o sistema sócio-metabólico do capital é capaz de absorver tudo...Entretanto, o que o diretor Mike Judge talvez esteja sugerindo é que empresas da New Economy não podem ser gerenciadas como empresas da Old Economy. Entretanto, por outro lado, como veremos no final, Judge sugere, na perspectiva da consciência de classe contingente, uma aguda critica à suposta "ética do trabalho" que sustenta o sistema corporativo do capital.


É claro que Peter, com sua revolta individual, não conseguiu romper com o sistema do capital. Pelo contrário, ao se contrapor aparentemente a ele, Peter incorporou de modo cinicamente paradoxal, a nova lógica de produtividade. Ele aparece como o empregado "flexível" adequado às novas empresas da New Economy. Ao ser promovido, Peter ocupa o lugar de dois amigos programadores, demitidos pela reengenharia empresarial. Entretanto, ele não se rebela contra a atitude da empresa, mas cinicamente, sente-se indignado com o Sistema. Decide juntar-se amigos indignados, ex-empregados da Initech, e planejar um "golpe de mestre" contra a empresa em que trabalha.


Ora, não há saídas coletivas em “Office Space”. Ao estilo de Holywood, o filme sugere “saídas” meramente individuais na forma da gang criminosa. Ao invés do self-made Man, o filme sugere que somos todos “gangsteres”. A "saída" que apresenta aos jovens proletários indignados da New Economy não é o individualismo empreendedor do “American dream”, que constrói o negócio por conta própria, mas sim, a ação individual cínica ou coletiva da gang criminosa. Talvez, o que o diretor Mike Judge tente compor seja mais um elemento de ridicularizar o “American Dream”. Na época da "acumulação por espoliação" (David Harvey), a fraude e trapaça tornam-se recursos de ascensão social. Portanto, o revide de Peter, Michael e Samir não poderia deixar de representar o maldito “espírito de época”.

Em última instância, Peter, Michael e Samir sugerem que é apenas transgredindo a lei que se pode enriquecer. É a antiética do trabalho (seria interessante assistir, logo a seguir, o documentário “Enron – Os Mais Espertos da Sala”, de Alex Gibney). Nesse sentido, é genial a sacada de Mike Judge, incorporando no imaginário do filme, a lenda do Superman, símbolo maior da América capitalista. O plano de Peter para conseguir dinheiro é exatamente igual ao de Gus Gorman no filme “Superman III” (de 1983). Neste filme, Superman (Christopher Reeve) enfrenta um computador diabólico, programado por um gênio da informática chamado Gus Gorman, que pretende dominar o mundo.
 Nesta pequena sinopse crítica, buscamos indicar alguns elementos temáticos e algumas pistas de analise que podem ser utilizadas para discutir a sociedade capitalista a partir do filme de Mike Judge. É claro que as consideração acima não esgotam, nem têm a pretensão de esgotar, os detalhes, que com certeza sugerem muitos outros elementos categoriais para elaborarmos uma critica da sociedade burguesa e do sócio-metabolismo do capital com seu trabalho estranhado na época do capitalismo global.

25 de jun. de 2013

Revolução democrática brasileira

Engraçado a mobilização que vejo no dia de hoje... Governantes anunciando melhorias, presidente propondo reforma politica e secretários afirmando que iram fazer tudo aquilo que é necessário nos setores públicos tão precários que temos em nossas cidades.
Se é possível hoje, era possível ontem, dinheiro não brota de uma hora pra outra, mas colher de forma errada despertou a revolta.
Sinceramente eu já havia perdido a esperança de coisas boas acontecendo neste país após o lamentável episódio do boato de fim do bolsa família, onde aquelas pessoas desesperadas por perderem a mamata  lotaram os bancos para sacar uma esmola dada pelo governo.
Porém agora sei que como milhões brasileiros espalhados pelo mundo todo, tenho orgulho do meu país.
Li e escutei muitas idéias durantes as ultimas semanas, todos tem direito de opinar e é válido, deu pra sentir que todo brasileiro quer melhorar alguma coisa, e sei que vamos conseguir.
Encontrei nas manifestações atos verdadeiramente nacionalistas e mensagens diretas por melhorias que acovardaram muitos corruptos. Acompanhei a mudança de opinião de muita gente durante esse período e adesão de muitos amigos aos movimentos. Lamentável é saber que temos muitos bandidos entre nós, mas vejo isso como uma consequência de impunidade e falta de leis, espero que isso melhor também, junto com educação, saúde e transporte.
Apesar de saber muito bem que existe muita coisa à ser feita, começar é o principio de tudo, é preciso despertar nas pessoas a vontade de ser alguém, não apenas ensinar à pescar mas despertar o tesão em ir atrás do peixe. Temos muitas questões à serem debatidas, muitas distribuições de bolsa isso, auxilio aquilo à serem eliminado aos poucos, muita coisa à se pensar com relação à distribuição de valores e reconhecimento de quem realmente merece, temos que parar de passar a mão na cabeça de vagabundo e punir com rigor o descumprimento das leis.

Espero que o povo brasileiro tenha aprendido a lição, que quem governa o país não é o politico eleito, mas sim o povo e que cada vez mais as pessoas adquiram conhecimento e se informem para escolher seus representantes, juntos podemos ter um país melhor e proporcionar aos nossos filhos oportunidades que nossa geração não teve, em sua grande maioria.

#OGIGANTEACORDOU