11 de ago. de 2010

Boteco


Quem freqüenta, tem história pra contar.
Muita gente não entende a essencia do boteco, sempre cheio de gritos e palavrões, às vezes com petiscos ruins em sua maioria, mas pra botequeiro não há impecilhos.
Podem pensar que a cerveja sempre gelada é o chamariz, ou até mesmo aquela branquinha (cachaça), mas não, o grande atrativo do boneco é outro! É a troca de idéias, são as piadas, a curtição, é a igualdade... Pois num boteco entra rico, entra pobre, entra mulher, entra homem, entra preto, entra branco, até uns vira-latas aparecem as vezes passando nos pés por baixo das mesas.
Bem, não existe uma definição melhor pra boteco, do que “conhecimento”.
É num papo de bar que surgem idéias, longos papos, paquera, filosofias de vida e mesmo todo mundo sabendo que não se discute política, futebol e religião, esses papos também estão lá.
Num boteco se criam frases de efeito, mesmo que elas não digam nada, por exemplo a frase dita a mim por um pescador já mais pra lá do que pra cá em um bar numa praia do ceará:
"-Porque convivencia, é convivencia e o importante é importante."
A frase não precisa dizer muita coisa, é só um sinal de amizade botequeira.

Se o lugar não fosse bom, ninguém teria inventado a saideira, que é apenas uma uma forma de continuar o papo, o problema é que a saideira não tem fim, uma saideira não obrigatoriamente tem que ser a ultima cerveja da noite, mas não se pode deixar o boteco sem pedi-la. Como a saideira muitas vezes não para mais de ser pedida, teve que se criar a derradeira, que é uma espécie de ultima saideira e ponto final, pra pedir outra cerveja depois desta, tem que fechar mesmo a conta e abrir uma nova.
Num bar se criaram crenças e rituais, como o brinde... O brinde é muito importante, e quem não o respeita é praguejado na mesa. Um brinde no boteco deve ser feito por todos ao mesmo tempo, e não se esqueça de dar um gole antes de voltar o copo à mesa.

Coisa de butecão mesmo!!!

“ - Oh Zé, me vê um kibe!
  - Que quibe o que...isso é uma coxinha de frango.
  - Então toca os mosquitos ai Zé e manda essa coxinha pra cá!”

Petiscos! O segredo pra se manter uma noite de bebedeira e não ver o teto girar, quem acompanha os goles com um bom petisco no maximo apenas tropeça na prorpia sombra.
Os melhores petiscos de bar são os tradicionais e mais simples, petiscos muito elaborados acabam atrapalhando o desempenho de um bar, como por exemplo o processo de gelar a cerveja.

Butecão de interior.
Amendoim é o básico dos básicos. Todo boteco deve ter amendoim.
O salame é o todo poderoso acompanhamento, está presente na tabua de frios com azeitona, queijos e presunto, as vezes uma mortadelinha.
Até agora nada complexo, fácil e qualquer idiota consegue fazer sem receber reclamações.
Pasteis, fritas e salgadinhos vem em segundo plano, e dão uma incrementada saborosa e substancial nos petiscos. Acompanhando logo atrás, estão o frango à passarinho, o peixinho frito...etc.
Sem esquecer o grande sacaneado do boteco, as conservas.
Salsicha, ovo cozido, picles... Geralmente ficam no balcão, parecem meio esquecidos, largados, se não fosse o grande detalhe: O balcão!
O balcão é o espaço mais democrático e gostoso do bar.
No balcão você chega sozinho e faz amizade, no balcão não tem assunto reservado, um se mete na conversa do outro sem medo e sem problema algum. Definitivamente, o balcão é o grande altar do boteco.
O grande problema do boteco é evitá-lo... Pois onde quer que você vá, sempre vai haver um boteco à espreita, com aquela geladinha esperando pra ser aberta.


Não adianta falar que vai abandonar o bar...pois tem aquele refrão:
“Larguei a vida de bebedeira... Mas alguém me convida pra dar um gole, e pra quem é chegado, negar não é mole!
Só uma cervejinha...Uma chama a outra, ai já viu...”
 E se está pensando em largar só morto, também não tem problema, pois já pensaram nisso também.

2 comentários:

Luis Alfredo Moutinho da Costa disse...

Prezado Vida,
Gostei desta postagem e passei a seguí-lo. Resolvi semana passada criar um blog sobre os butecos (boteco, botequim) do Médio e Baixo Leblon. São apenas 13 entre dezenas de bares e restaurantes. 13 sobreviventes. Para serem classificados como butecos, devem possuir certas características rígidas. Não há chope e, muito menos, mesinhas com cadeiras. No máximo alguns tamboretes no balcão.... e a cerveja é tomada em pé. O resto são os comes e as cachaças. Quando eu tiver postado alguma coisa enviarei a URL do site. Você definiu muito bem o "clima" do buteco.
Parabéns e abraços etílicos.

Vida Intensificada disse...

Obrigado pelos comprimentos meu caro.
Estaremos aguardando o link com ansiedade e quem sabe poder conhecer esses sobreviventes.

Abraços